O Saúde na Capital esta semana vem com desafios diários de pequenas mudanças de estilo de vida que estão relacionados à longevidade e ao bem-estar físico e mental. Propor novos hábitos nutricionais, introdução de atividade física na rotina e a prática da meditação são hoje recomendações para prevenção de doenças cardiovasculares e demência.*
Porém fica a pergunta, o que é um hábito? Quanto tempo o nosso cérebro precisa para tornar uma mudança em um novo hábito? Haveria um número mágico?
Hábitos definidos de uma forma simples são comportamentos executados automaticamente porque foram realizados com frequência no passado. Essa repetição cria uma associação mental entre a situação (dica) e a ação (comportamento), o que significa que, quando a dica é encontrada, o comportamento é executado automaticamente. Ou seja, não há esforço mental para a realizaçar uma tarefa.
Muito se fala em 21 dias como tempo ideal para algo se tornar hábito. Porém, este número é na verdade um mito. Tal número teve sua origem com cirurgião plástico e psicólogo Maxwell Maltz. Ele escreveu um livro Best-seller (mais de 30 milhões de cópias), na década de 60, chamado Psycho-Cybernetics. Ele descreveu que normalmente levava-se um mínimo de 21 dias para um grupo de pacientes específicos se acostumar com seu novo rosto no espelho ou para um amputado se acostumar a não ter mais seu membro. A questão é que este dado foi mal interpretado e perpetuado ao longo de décadas até se adotar o “desafio de 21 dias”, que é amplamente utilizado para motivar as pessoas a fazerem mudanças.
Em 2009, Phillippa Lally, pesquisadora de psicologia da saúde da Universidade de Londres, publicou o artigo intitulado ‘Quanto tempo leva-se para formar um hábito’. Descobriu que, em média, leva 66 dias para um hábito se enraizar. Obviamente este tempo será varíavel para cada indivíduo e quanto menos complexo for a mudança mais rápido ele se tornará um hábito. Esta última tendo tudo haver com as pequenas mudanças propostas nesta semana.
Portanto, a chave para adotar um novo comportamento é mantê-lo – e não se sentir desanimado. Persista e mesmo que a falta de disposição faça força para você não calçar o tênis para corrida, lembre-se que você se propôs um desafio e que os benfícios de melhores hábitos trarão melhor qualidade para toda a sua vida.
Por André Ferreira, Neurologista
* ( Ageing without dementia: can stimulating psychosocial and lifestyle experiences make a difference? Laura Fratiglioni, Anna Marseglia, SerhiyDekhtyar, Lancet Neurol 2020; 19: 533–43, Meditation and bloodpressure: a meta-analysis of randomized clinical trials, Lu Shi 1, Donglan Zhang, Liang Wang, JunyangZhuang, Rebecca Cook, Liwei Chen, J Hypertension, 2017 Apr;35(4):696-706).