Animais de estimação podem ajudar na saúde mental ao reduzir a solidão no isolamento

Um número crescente de pesquisas indica que a solidão contínua e prolongada está associada a resultados adversos à saúde, incluindo risco elevado de diabetes, hipertensão, câncer, doença arterial coronariana, depressão, ansiedade e até suicídio.

A pandemia, especialmente durante os períodos de isolamento social, intensificou essas ocorrências, segundo um estudo recente do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos). Os sintomas de ansiedade aumentaram quase três vezes em comparação com o segundo trimestre de 2019 e os diagnósticos de depressão quadruplicaram, com 40% dos adultos norte-americanos relatando que lutaram contra a saúde mental ou abuso de substâncias entre abril e junho de 2020.

Embora o Zoom e as mídias sociais possam ajudar a aliviar a solidão durante os períodos de isolamento, a conexão humana ao vivo é o ideal. No entanto, quando isso não é possível ou viável, os laços que as pessoas formam com os animais podem ser muito valiosos.

Na verdade,  de acordo com os resultados de um novo estudo, publicado na revista “PLoS Oneuma”, revela que uma maneira potencial de reduzir o estresse psicológico crescente durante os períodos de confinamento é ter um animal de estimação em casa. 

Como os humanos são seres sociais, eles precisam de nutrição emocional para manter a saúde física e mental. E, ao que tudo indica com base nos resultados do levantamento, os animais de estimação podem ajudar a fortalecer a saúde enquanto reduzem a dor emocional associada à solidão.

O estudo realizado no Reino Unido envolveu mais de 6 mil participantes, dos quais 90% possuíam pelo menos um animal de estimação. Desse total, mais de 90% revelaram que  seus pets os ajudaram a lidar emocionalmente com o confinamento (de 23 de março a 1º de junho no Reino Unido), e 96% disseram que, graças aos animais, mantiveram-se ativos em suas rotinas de exercícios.  

No entanto, 68% dos tutores indicaram que também ficaram preocupados com seus pets durante o confinamento. Isso surgiu principalmente por conta do acesso a cuidados veterinários e realização segura de exercícios fora de casa. Além disso, houve o estresse adicional sobre quem cuidaria do bichinho caso o dono adoecesse. 

“Os resultados também demonstraram ligações potenciais entre a saúde mental das pessoas e os laços emocionais que elas mantêm com seus animais de estimação: as taxas de vínculo humano-animal foram mais altas entre as pessoas que relataram pontuações mais baixas para resultados relacionados à saúde mental no início do estudo”, disse a autora principal, Dra. Elena Ratschen, professora sênior em pesquisa de serviços de saúde da Universidade de York.

“Também descobrimos que a força do vínculo emocional não diferia estatisticamente por espécie, o que significa que os indivíduos em nossa amostra se sentiam tão próximos emocionalmente de seus porquinhos da índia quanto de seus cachorros”, explicou Elena. “É importante garantir que os donos tenham o apoio adequado para cuidar de seus animais durante a pandemia.”

Para o coautor do levantamento, Dr. Daniel Mills, professor de medicina veterinária comportamental da Escola de Ciências da Vida da Universidade de Lincoln, o trabalho é particularmente importante no momento, pois indica como ter um bichinho de estimação em sua casa pode amortecer parte do estresse psicológico associado à doença. “No entanto, é importante que todos apreciem as necessidades de seus animais também. Situações que não atendem a esses requisitos podem ter efeitos prejudiciais para ambos.”

PESQUISA REVELA AUMENTO DE GATOS NO BRASIL

No Brasil, a situação é parecida. Em uma pesquisa encomendada pela marca de nutrição animal Royal Canin, realizada em agosto deste ano em todo o território nacional, foi constatado um aumento de 16% no número de felinos nos lares brasileiros durante a pandemia do novo coronavírus. Desse total, 11,5% alegaram ter adquirido um gato principalmente por causa da solidão. No entanto, assim como as preocupações do Dr. Daniel Mills, da Universidade Lincoln, a pesquisa brasileira mostrou que 43% desses novos tutores ainda não levaram seus animais ao veterinário, um dado que vai contra as necessidades básicas dos pets. 

Desse total, 32,6% alegaram que não levaram os bichinhos ao veterinário por não se sentirem seguros (por causa da pandemia) e 40,1% relataram que não o fizeram porque não se depararam com nenhuma intercorrência de saúde nesse período. Segundo Gláucia Gigli, diretora de marketing da Royal Canin, “a falta de conhecimento sobre a espécie faz com que muitos tutores pensem que o gato é parecido com o cão, mas a verdade é que os felinos demoram a apresentar sintomas de que algo não está bem e, quando eles finalmente aparecem, a doença pode já estar em um estágio avançado”.

Além disso, 23% dos novos tutores relataram que a ida ao veterinário representa um grande estresse para o animal, por isso a evitam. “Infelizmente, isso leva muitos tutores a acreditarem que o gato é independente, vive sozinho e não precisa de atenção com sua saúde. Mas a realidade é que ele também precisa de cuidados básicos, a começar pela vacinação e consultas de rotina.”

ADOÇÃO CONSCIENTE

Por isso é tão importante conhecer o animal que se está adotando e não tomar uma atitude como essa por impulso. O Dr. Ratschen explica que as descobertas do estudo não significam que alguém deva adotar um animal de estimação para melhorar ou manter sua saúde mental durante a pandemia. “Embora nosso estudo tenha mostrado que tal companhia pode mitigar alguns dos efeitos psicológicos prejudiciais da Covid-19, é importante entender que essa descoberta provavelmente não tem significado clínico e não justifica qualquer sugestão de que as pessoas devam comprar ou adotar animais para proteger sua saúde mental durante a pandemia”, advertiu.

Com mais de 40% das famílias do Reino Unido contando com animais de estimação, o estudo é um bom presságio para os atuais tutores. Embora Ratschen não possa recomendar a adoção apenas como solução para os problemas de saúde, parece que os benefícios da companhia realmente favorecem o ser humano. 

Curiosamente, o estudo também descobriu que a observação de pássaros é a interação mais comum com o mundo animal fora da categoria domésticos, com quase 55% dos participantes relatando observar e alimentar aves em seu jardim.

Já no Brasil, segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET), atualmente a população pet está dividida em 55,1 milhões de cães e 24,7 milhões de gatos.

FONTE: Forbes Brasil

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