Doença de Peyronie: conheça a condição por trás do “pênis torto”

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), pelo menos 11% dos homens no país são afetados pelo problema; necessidade de tratamento cirúrgico é rara

Curvatura excessiva do pênis durante a relação sexual é a causa mais aceita para a Doença de Peyronie, condição popularmente conhecida como “pênis torto” (Foto: iStock)
Curvatura excessiva do pênis durante a relação sexual é a causa mais aceita para a Doença de Peyronie, condição popularmente conhecida como “pênis torto” (Foto: iStock)

Quando se pensa em sexo seguro, a primeira palavra que vem à cabeça é camisinha. E a associação é mais do que justa: se usado corretamente, o preservativo é um dos métodos mais efetivos para prevenir infecções sexualmente transmissíveis. Mas, ao contrário do que parece, ele não é a única coisa que o casal precisa lembrar para evitar problemas após o rala e rola: a escolha da posição sexual também importa, principalmente se você tiver um pênis.

A curvatura excessiva do órgão masculino durante a relação sexual é a causa mais aceita para a Doença de Peyronie, condição popularmente conhecida como “pênis torto”. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), pelo menos 11% dos homens são afetados pelo problema que, como o apelido sugere, é caracterizado pela tortuosidade acentuada do órgão.

Ao contrário de pequenas curvaturas consideradas normais, a tortuosidade que acomete pacientes com a Doença de Peyronie pode variar de 30 até 90 graus – seja para a direita, seja para a esquerda.

Descrito pela primeira vez por François Gigot de La Peyronie (1678-1747), médico do rei Luís XV, o quadro é diferente do pênis curvo congênito, deformação que afeta alguns meninos desde o nascimento, mas que não provoca dor. Não é o caso dos homens que, ao longo da vida, são diagnosticados com a condição do “pênis torto”: além da sensação dolorosa (e, claro, deformidade do órgão), eles costumam apresentar aos urologistas suspeitas de tumor, já que é possível apalpar uma espécie de “caroço” na região.

O “caroço”, porém, nada tem a ver com câncer. Trata-se, na verdade, de uma placa de fibrose formada ao redor da túnica albugínea, capa que reveste os corpos cavernosos – quando preenchidas de sangue, são essas as estruturas que fazem o pênis ficar ereto. “A fibrose leva ao encurtamento do corpo cavernoso, o que compromete a elasticidade do membro e impede sua expansão, levando ao entortamento do pênis”, explica Danilo Galante, urologista e membro titular da SBU, em entrevista a GALILEU.

A formação dessas placas fibrosas tem justificativa: é uma tentativa do órgão masculino de reparar os danos causados por microtraumas na região, quadro que culmina na “cicatrização exagerada” característica da Doença de Peyronie. Segundo a SBU, a condição é mais frequente em homens acima dos 40 anos, o que pode estar relacionado ao acúmulo desses microtraumas no decorrer da vida sexual – embora jovens também sejam afetados pela condição. Trauma local por prática de esportes, diabetes e utilização de alfabloqueadores são outros fatores possivelmente associados à doença.

A vilã dos homens

Entre as posições sexuais que aumentam o risco da Doença de Peyronie, há uma que, para Galante, merece atenção. O urologista estima que 40% de seus pacientes com a patologia agravaram o problema ao transar no modo conhecido como gangorra, em que a parceira fica sentada em cima do homem, com as mãos apoiadas para trás e os pés para frente, completamente apoiados na superfície. “Como o peso da mulher fica totalmente apoiado no quadril do homem, se o órgão escapar da cavidade vaginal, pode acabar dobrando de maneira brusca e sofrer um trauma maior”, explica o médico.

De acordo com os especialistas, alternativas em que o homem fica acima ou atrás da parceira reduzem consideravelmente a ocorrência de lesões no pênis (Foto: Dainis Graveris/Unsplash)
De acordo com os especialistas, alternativas em que o homem fica acima ou atrás da parceira reduzem consideravelmente a ocorrência de lesões no pênis (Foto: Dainis Graveris/Unsplash)

Publicado em 2015 no jornal Advances in Urology, um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com a PUC-Campinas traz evidências que reiteram os riscos dessa pose não só para a condição do “pênis torto”, mas para outros problemas no órgão: 50% dos casos de fraturas penianas analisados pelo grupo aconteceram a partir da posição “cowgirl”, na qual a mulher fica por cima do homem. De acordo com os especialistas, alternativas em que o homem fica acima ou atrás da parceira reduzem consideravelmente a ocorrência desse tipo de acidente.

O que fazer – e o que não fazer

Além da tortuosidade acentuada, pacientes com a Doença de Peyronie podem enfrentar dificuldades de ereção e penetração, com prejuízos à qualidade de vida. Para esses homens, só há um caminho eficaz a ser seguido: o tratamento cirúrgico, indicado para cerca de 30% dos casos.

Há duas possibilidades de operação: na mais comum, para corrigir a curvatura, o lado sadio do pênis é reduzido – o que leva a um encurtamento do órgão em cerca de 1 cm a 1,5 cm. Na outra, mais arriscada, arranca-se a placa fibrosa, mas o “buraco” precisa ser recoberto por algum enxerto, como o pericárdio do boi ou a veia safena do paciente. Uma vez que pode trazer danos para a irrigação sanguínea do pênis – e, consequentemente, dificultar ereções –, a segunda alternativa é a menos recomendada.

Independentemente da técnica escolhida, a cirurgia só pode ser realizada ao menos seis meses depois do surgimento das placas fibrosas, período em que a curva, mais aberta ou mais fechada, tende a se estabilizar. “Se fizer a operação antes dessa fase aguda, há o risco do pênis continuar entortando”, alerta Galante.

Segundo o médico, a maioria dos pacientes, no entanto, consegue conviver com o problema sem a necessidade de intervenções cirúrgicas. Isso porque, após a fase aguda da doença, a curva costuma estabilizar em um grau de tortuosidade que não afeta a vida sexual – nesses casos, o cuidado principal é o mais óbvio: evitar posições que possam piorar a deformidade do pênis.

Embora alguns urologistas indiquem remédios ou suplementação com vitamina E, não há evidências científicas suficientes que sustentem a eficácia desse tipo de tratamento contra a Doença de Peyronie. Para o membro titular da SBU, também é preciso tomar cuidado com métodos vendidos como “milagrosos”, que prometem resolver o problema e, além disso, alongar o pênis. “Tendo consciência disso, o paciente fica menos vulnerável a esses tratamentos falsos que prometem coisas que não vão cumprir”, diz.

Formato ou funcionalidade: o que importa mais?

Para o urologista, a procura por saídas miraculosas costuma ser maior entre os homens que são mais ligados à estética do pênis. Mas o desespero pode levar a cenários ainda piores – como cirurgias desnecessárias e até mutilantes.

Por trás dessa busca, pode haver, ainda, um mito comum acerca do maior símbolo da masculinidade que, para Galante, já passou da hora de ser desmistificado: “O tamanho ou formato do pênis não é a única coisa que influencia o tesão de uma mulher ou de um homem”, lembra o médico. “Se não há disfunção erétil, ou seja, se o homem continua conseguindo fazer sexo, a cirurgia não é recomendada”, reforça.

FONTE: REVISTA GALILEU

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