É tudo igual? 6 fatores que diferenciam uma água mineral da outra

Conhecida como um líquido sem cor, cheiro e gosto, a variedade de águas minerais no Brasil e no mundo é determinada por muitos aspectos. Conheça algumas curiosidades sobre a bebida

Água mineral é tudo igual? (Foto: Greg Rosenke/Unsplash)
Água mineral é tudo igual? (Foto: Greg Rosenke/Unsplash)

Imagine abrir uma garrafa de água mineral lacrada e, ao ingerir um gole, ter a sensação de que os minerais dela estão grudando no céu de sua boca. Ou ainda: matar a sede com um líquido que tem o sabor de “aspirina engarrafada”. As percepções, extraídas da série Curta Essa com Zac Efron, da Netflix, trazem à tona o princípio básico de uma água potável: o de que ela não deve ter cor, cheiro ou gosto. Mas será que isso é verdade?

Para ser considerada potável, a água precisa, sim, ser inodora e incolor, além de não apresentar gosto de qualquer substância química que não seja original dela. Mas não necessariamente precisa-se verificar a ausência de um sabor. Isto é, você pode sentir um indício metálico em uma água rica em magnésio, por exemplo. “Se você pegar um pouquinho do bicarbonato de sódio alimentício, colocar na água e beber, você vai sentir um gosto levemente amargo. Esse é o gosto que as pessoas com paladar mais sensível sentem quando a concentração de sais dissolvidos está acima de 200 mg/L”, ilustra o professor Reginaldo Bertolo, vice-diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (Cepas) da Universidade de São Paulo (USP).

O que dita a potabilidade de uma água é se ela atende ou não às normas estabelecidas pelas agências de vigilância de alimentos — a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no caso do Brasil. Cada país tem seus próprios critérios que limitam a quantidade máxima de substâncias em águas minerais, incluindo seus elementos naturais e eventuais produtos químicos aplicados a elas.

Para a Anvisa, se a água apresentar mais do que 6,5 mg de magnésio ou 25 mg de cálcio a cada 100 mL, mesmo que a composição esteja inalterada — ou seja, venha assim direto da fonte —, ela não é potável.

Águas minerais engarrafadas precisam atender a Resolução 274, de 22 de setembro de 2005, para serem comercializadas. A principal diferença de uma água potável comum para uma água mineral natural está nas propriedades químicas, que são o que pode dar “sabor” à água e dependem, em grande parte, da fonte de onde o líquido brotou.

Na opinião do sommelier de água Rodrigo Rezende, certificado pela Fine Water Academy, dos Estados Unidos, todas as águas são únicas em sua própria riqueza. “Você jamais vai beber uma água mineral igual a outra, porque as fontes são todas diferentes entre si”, pontua. Mas, afinal, quais são os elementos que diferenciam uma água da outra?

6 fatores que diferenciam águas minerais

1. Fonte

O Brasil tem mais de 1200 fontes de águas minerais de aquíferos, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). Cada uma delas garante características específicas para a água que gera, como temperatura, pH, concentração de gases (como o carbônico, da água com gás) e condutividade elétrica.

A localização da fonte também pode indicar maior ou menor interferência humana. Estar dentro de uma área urbana aumenta os riscos de um aquífero ser contaminado a partir de um vazamento da rede de esgoto, por exemplo. Da mesma forma, uma área rural demanda atenção ao uso de fertilizantes na terra.

2. Nitrato

Natural da composição química da água, o nível de nitrato é um indicador da ação humana em aquíferos. Em águas não impactadas, espera-se uma concentração de nitrato de até 2 mg por litro, segundo o vice-diretor do Cepas-USP. Níveis muito acima disso podem apontar para resíduos de xixi e fertilizantes. 

Mas isso não torna a água impotável. Pela legislação, até 50 mg de nitrato (NO3-) por litro ainda garantem sua potabilidade. Se aparecer no rótulo como nitrato de nitrogênio (N-NO3-), a concentração máxima permitida é de 10mg/L. “A água pode se manter potável, mas deixará de ser exatamente como a natureza criou”, diz Bertolo.

3. Embalagem

O material que envolve a água também pode interferir em sua qualidade. A água pode ser modificada pela composição química da embalagem e contaminada por substâncias indesejadas. Mas isso depende de exposições a altas temperaturas. “Se a temperatura aumenta, o plástico começa a sofrer uma degradação”, explica Bertolo. No caso da garrafa PET, o antimônio, metal pesado utilizado na polimerização, pode interagir com a água em pequena concentração.

Os galões de água são ainda mais preocupantes. O plástico que algumas marcas usam pode liberar substâncias prejudiciais em seu processo de degradação. “Essas embalagens são perigosas, pois liberam bisfenol, um produto orgânico que a longo prazo pode fazer mal à saúde”, alerta Bertolo. Dentre as opções, embora menos comuns em supermercados, o recipiente menos arriscado é o vidro

4. Radioatividade

Identificada na captação da água, a radioatividade é medida a partir da presença do gás radônio, que classifica a fonte como fracamente radioativa, radioativa ou fortemente radioativa. No entanto, o teor desse elemento químico não interfere na qualidade ou no sabor da água. Bertolo esclarece que os níveis de radônio encontrados nas garrafas que consumimos são ainda menores do que quando a água é coletada na fonte, onde já são irrisórios.

5. pH

pH da água mede sua concentração hidrogeniônica. Se estiver abaixo de 7, o líquido apresenta caráter ácido. Acima de 7, básico. Em águas minerais, é uma característica natural, determinada pela localização da nascente, e que não influencia na potabilidade. Segundo a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, alimentos ou água com pH básico ou ácido não conseguem alterar o pH sanguíneo. 

6. Total de sólidos dissolvidos

Identificado no rótulo como “resíduo de evaporação”, o total de sólidos dissolvidos é a concentração de minerais na água (também chamada de taxa de mineralidade), como cálcio, sódio, magnésio, potássio, bicarbonato. Se a água for evaporada em determinada temperatura (também indicada no rótulo), sobram esses resíduos.

As águas minerais do Brasil, de acordo com Bertolo, não costumam ter taxa de mineralidade maior do que 300 mg/L. “Servem para matar a sede, mas não são fontes nutricionalmente significativas de sais minerais para o organismo”, destaca o especialista da USP. 

Já na Europa, boa parte das águas apresenta concentrações mais altas. A água que pareceu “aspirina engarrafada” para Zac Efron na série da Netflix apresenta uma taxa de 3050 mg de minerais por litro, e sua fonte fica na Espanha. O programa também mostra uma água da Eslovênia cuja taxa é 7400 mg/L. O líquido é percebido com um sabor metálico devido à alta concentração de magnésio.

Como ler o rótulo da água

Diante de todas essas informações, quais são os outros pontos para se manter alerta na hora de escolher uma água mineral no supermercado? O vice-diretor do Cepas-USP, Reginaldo Bertolo, chama atenção para três:

Data de envase
É importante observar o tempo transcorrido entre o envase e a efetiva data do consumo. Quanto maior for o tempo, maior é a probabilidade da água mudar de composição química em contato com o plástico,. Outra possibilidade é que, quando exposta à luz do sol, a água possibilite a germinação de esporos de algas de tamanho microscópico.

Localização da fonte
Evite comprar águas cujas fábricas localizem-se dentro da área urbana, porque há maior probabilidade de haver contaminação por nitrato, oriundo da rede de esgoto.

Marca
Apostar em marcas com maior potencial de ter boa estruturação no departamento de controle microbiológico é interessante no momento da escolha da água. Pela legislação, as indústrias não podem alterar a composição química da água — como inserir cloro —, mas é preciso haver controle da água para eliminar possíveis microrganismos maléficos à saúde.

FONTE: REVISTA GALILEU

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