Pesquisa britânica mostra que pacientes que ficaram em quarentena passaram a se mover 11% menos a cada hora e perderam 25 minutos de atividades leves diárias
O sedentarismo causado pela pandemia de Covid-19 pode ter trazido efeitos negativos à saúde de milhares de pessoas. Mas, de acordo com um estudo publicado recentemente no periódico científico BMJ Neurology, há um grupo para o qual recomendações sobre como reverter esse quadro ainda são escassas: pacientes com distrofias musculares.
Liderada por cientistas do King’s College London, no Reino Unido, a pesquisa concluiu que as medidas de restrição social reduziram significativamente o tempo diário de atividades de caráter leve e a frequência de movimentos por hora na categoria. “[Apesar disso], ainda há poucos conselhos de saúde pública baseados em evidências sobre como corrigir déficits de atividade física resultantes das restrições sociais para esse grupo”, defende o estudo.
Adultos com diferentes graus de disfunção neuromuscular, desde pessoas altamente independentes do ponto de vista físico até indivíduos com mobilidade reduzida fizeram parte da investigação britânica. A amostra, monitorada pela instituição desde abril de 2019, também incluiu um subgrupo que passou a ser acompanhado pelos pesquisadores a partir de março de 2020 – data correspondente ao início das medidas de confinamento no Reino Unido.
Ao todo, até o mês de julho do ano passado, 100 pacientes foram assistidos remotamente pelos pesquisadores, a partir de acelerômetros. Esses dispositivos mediram a intensidade, frequência e tempo das atividades realizadas diariamente pelo grupo – desde vestir uma roupa até caminhar.
Mais sedentários
Enquanto antes das medidas de isolamento social os participantes mantinham uma média diária de atividades leves por 84,5 minutos, esse número caiu para quase 60 minutos por dia com o lockdown – uma queda de aproximadamente 25 minutos. A frequência de movimentos por hora também apresentou uma redução significativa: 11%.
Atividades de teor moderado e vigoroso (AFMV, no termo em inglês), porém, não sofreram grandes alterações durante o período analisado – com exceção das caminhadas –, o que, segundo os pesquisadores, pode ser justificado em razão dos baixos níveis de AFMV comumente observados entre pessoas com distrofias musculares.
De acordo com o estudo, a redução de atividades leves e da frequência de movimento se deu pelas restrições à ida ao trabalho e espaços de lazer, além da ausência de minutos breves e cumulativos que geralmente intercalam atividades sociais ao longo do dia (como se mover para conversar com alguém no trabalho, por exemplo).
Mais difícil de ser detectada sem o auxílio de um acelerômetro, a perda dessas atividades de caráter leve estão associadas a piores indicadores de saúde – especialmente entre indivíduos com doenças neuromusculares. Retomá-las, diz a pesquisa, diminuiria o “impacto da inatividade nos músculos funcionais, incluindo aqueles necessários para deambulação e estabilidade central”.
Para reverter o quadro, o estudo reitera o posicionamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que “cada movimento conta” e recomenda às pessoas com deficiência neuromuscular que mexam o corpo por pelo menos 5 minutos a cada hora durante o dia. Além disso, sugere o gasto de 30 minutos com atividades leves, como exercícios na cadeira de rodas, tai chi, ioga, pilates, alongamento suave, banho e caminhada lenta.
A recomendação não se restringe ao público-alvo da pesquisa: “nosso conselho representa uma mensagem de saúde pública facilmente disseminável”, diz o estudo. Afinal, pessoas com distrofias musculares não foram, de longe, as únicas que se tornaram mais sedentárias com a pandemia.
“A redução na atividade leve medida nesta pesquisa é provavelmente semelhante para qualquer pessoa cuja rotina diária foi restringida pelo bloqueio”, acrescenta Sarah Robert-Lewis, líder da investigação e fisioterapeuta neurológica no King’s College London, em nota.
Fonte: Revista Galileu