Emater-DF orienta produtores do Distrito Federal a como cultivar, comercializar e consumir esse tipo de vegetação
Equipes multidisciplinares de extensionistas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF) têm orientado produtores do Distrito Federal a como cultivar, comercializar e consumir plantas alimentícias não convencionais (Pancs).
As Pancs são hortaliças, frutas e leguminosas que se destacam pelo alto valor nutricional e que, por isso, têm ganhado espaço na culinária.
Elas podem ser encontradas em ambientes urbanos, rurais, quintais. Pelo desconhecimento de suas qualidades, muitas vezes são tratadas como “daninhas” ou “mato”.
Mas algumas, por serem naturais de determinados biomas, proliferam com abundância, o que torna seu custo de produção baixo.
De acordo com a nutricionista da Emater-DF Daniele Amaral, as pessoas possuem dificuldade de distinguir o mato de uma planta que pode ser consumida.
“A sabedoria dos antepassados sobre essas plantas também foi se perdendo e elas caíram no esquecimento. Também não há muita oferta. Hoje é mais fácil encontrar o que é produzido em larga escala, o que acabou mudando os hábitos alimentares das pessoas.”
“Não é necessária a utilização de agrotóxicos e ela se adaptada facilmente em ambientes biodiversos. Por isso, pelo fácil manejo e cultivo, são atrativas aos produtores”Adriana Nascimento, coordenadora do Programa de Olericultura da Emater-DF
Entretanto, em algumas regiões do país, algumas ainda são tradicionalmente usadas na culinária local, como o jambu, no Pará, ou a vinagreira, no Maranhão.
No Distrito Federal, as mais comuns encontradas são ora-pro-nobis, bertalhas, beldroega, capuchinha, jacatupé, dente-de-leão, serralha, taioba, hibisco, peixinho e azedinha (Quadro em anexo).
Para a coordenadora do Programa de Olericultura da Emater-DF, Adriana Nascimento, além do valor regional, outra incontestável importância dessas plantas é que elas são, em sua maioria, rústicas, resilientes e adaptadas ao nosso clima, tendo baixa necessidade de água e adubação.
“Além disso, não é necessária a utilização de agrotóxicos e ela se adaptada facilmente em ambientes biodiversos. Por isso, pelo fácil manejo e cultivo, são atrativas aos produtores”, disse.
Nos últimos anos, as Pancs têm despertado cada vez mais o interesse de produtores, de pesquisadores das áreas de biologia e nutrição, de quem trabalha com gastronomia e até de quem simplesmente gosta de cozinhar em casa. Isso se dá pelos diferentes sabores e benefícios nutricionais.
Organização Social
No Programa de Assentamento Dirigido (PAD-DF), na região do Paranoá, um grupo de produtores, organizado pela extensionista da Emater-DF Yokohama Cabral, foi incentivado a plantar Pancs e plantas medicinais. “O cultivo dessas plantas resgata o conhecimento tradicional de uso para alimentação e saúde. Além de algumas Pancs terem seus valores nutricionais, possuem também valores terapêuticos.”
Yoko conta que antes da pandemia, estava desenvolvendo um trabalho de capacitação e orientação sobre formas de cultivar, colher, processar e utilizar, seguindo a legislação que aponta as plantas que tem seu uso medicinal reconhecido e permitido. “É importante resgatar esse conhecimento que antigamente era passado de geração para geração e que foi se perdendo ou que nem aconteceu em muitos casos”, afirmou.
“Uso a ora-pro-nobis, feijão guandu e a moringa oleifera para complementar a alimentação das cabras. Isso ajuda a diminuir o custo com alimentação e contribui para a saúde das cabras e para a qualidade do leite”Alsimar Luiz Biscaro, criador de cabras
O gaúcho Alsimar Luiz Biscaro é de origem rural e veio para o Distrito Federal há 20 anos, mas apenas há cinco decidiu voltar para o campo. Ele possui um rebanho de 150 cabras para produção de leite e derivados, com mais tecnologia e agroecológica.
“Quis voltar para o campo, mas de forma mais tecnificada do que meus pais. Em 2017 participei do Congresso Latino-Americano de Agroecologia, realizado aqui em Brasília, para buscar informações sobre plantas nutritivas para o rebanho. Lá vi informações sobre Pancs e fitoterápicos e depois resolvi estudar mais e pesquisar sobre o tema, o que me fez querer ser um guardião dessas plantas”, conta.
“Minha mãe sempre nos alimentava com essas hortaliças e então decidi resgatar o uso dessas plantas para minha alimentação e dos animais. Uso a ora-pro-nobis, feijão guandu e a moringa oleifera para complementar a alimentação das cabras. Isso ajuda a diminuir o custo com alimentação e contribui para a saúde das cabras e para a qualidade do leite”, explica Biscaro.
Agora, com o apoio da Emater-DF, ele quer que sua propriedade seja uma unidade demonstrativa e educativa sobre as Pancs e fitoterápicos. “Esse conhecimento não pode ser esquecido e deve ser disseminado.”
A agricultora Ineldes Gonçalves tem uma produção diversificada na propriedade, com frutas, hortaliças, plantas medicinais, Pancs e vende sua produção na feira permanente de São Sebastião aos domingos. “Além de vender, também consumimos e damos aos animais. Temos patos, galinhas e outras aves que às vezes adoecem e tratamos com plantas medicinais que cultivamos. Tenho muitas matrizes e mudas, mas para viver apenas do cultivo de Pancs é preciso ainda um trabalho muito grande de divulgação para estimular o consumo”, diz.
Estímulo à produção e consumo
Além da assistência técnica e estímulo à organização social para o cultivo, a Emater-DF atua em parceria com a Embrapa Hortaliças na promoção e transferência de tecnologia das hortaliças tradicionais, levando informações da pesquisa ao campo e promovendo capacitações conjuntas com dias de campo, palestras e cursos.
O pesquisador da Embrapa Hortaliças Nuno Madeira diz que a instituição possui uma coleção de germoplasma (material genético) de cerca de 400 variedades de umas 80 espécies de hortaliças Pancs.
“São no mínimo 10 mil espécies de Pancs com potencial alimentício. Nesta unidade da Embrapa, trabalhamos com as hortaliças Panc, guardando o material genético, melhorando a fitotecnia dos sistemas de produção a fim de aumentar a produtividade e levando os resultados das pesquisas aos produtores, principalmente com o apoio da Emater”, conta. Para tratar principalmente de aspectos agronômicos em relação Pancs, Madeira diz que este ano acontecerá a HortPanc, em Salvador.
No parque de exposições Ivaldo Cenci, onde acontece a AgroBrasília, e próximo ao escritório da Emater-DF no Lago Oeste há unidades demonstrativas com cultivo de Pancs. Além disso, existem oito bancos comunitários com diversos tipos de Pancs em vários locais do DF. E como estímulo ao consumo, a nutricionista da Emater-DF Daniele Amaral auxiliou na elaboração de diversas receitas com o uso dessas plantas.
Benefícios nutricionais
As Pancs têm elevado valor nutritivo e paladar diferenciado, muito valorizado pela gastronomia. Segundo a nutricionista Daniele Amaral, há inclusive empresas fazendo ora-pro-nobis em cápsulas para suplementar proteína
* Com informações da Emater-DF
FONTE: AGÊNCIA BRASÍLIA